sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

"Pragmatismo Funcional"

Foi-me feito o convite de participar neste fórum de discussão, em que o mesmo seria um espaço de reflexão sobre os vários problemas com os quais nos confrontamos diariamente. Foi igualmente feita a referência a possíveis soluções. Noutro tom: dar uma espécie de solução.

Vivendo eu no mundo do associativismo académico, ao qual muito devo a minha formação, exponho a minha simples teoria de “pragmatismo funcional”, algo chato para muitos, pois envolve capacidades cada vez mais raras como responsabilidade, bom senso, trabalho…, decerto recursos escassos nos tempos que decorrem, tão marcados por intenções “queimadas”, justificadas com o justificativo esclarecimento ainda (obviamente) não dado…!

Pela obrigatoriedade de eu próprio seguir esta “filosofia”, sou conhecido como uma pessoa competente, trabalhadora e acima de tudo (perdoem a vulgaridade) um chato do caraças! Fere-se a quem de repente é confrontado com a realidade de “se queres algo feito, tens que trabalhar para isso”! Algo a que mais uma vez refiro é custoso a muita gente! Já Adam Smith o afirmava que «trabalho é esforço e suor».

Pode parecer uma análise violenta e é certo que todos nós podemos identificar um cem números de casos em que vemos uma pessoa com três cargos distintos, com namorada, vai ao ginásio, pertence ao clube das setas, tem um part time ao fim-de-semana, olheiras de carvão e um semi-ataque cardíaco aos 30!

Manifestamente um exagero, quando se pretende um equilíbrio, igualmente difícil de se atingir. Mas para tal, é igualmente necessário um esforço para se sair da inércia e do plano do «eu faço depois ou deixo para o outro que fará por mim…!»

Ao concreto, um exemplo caricato que um dia testemunhei, foi constatar uma declaração/reivindicação para que as senhoras da limpeza da Associação Académica fossem limpar a sala, de enormes dimensões 3x3m. Para tal, foi criado um documento formal, enviado por correspondência, entregue na secretaria, remetido ao administrador, para seguir ao presidente! Ao qual a resposta foi remetida ao administrador, que enviou à secretaria, esta respondeu ao remetente! Com a resposta: “ o assunto foi recebido e serão tomadas as devidas providências”!

Conclusão: nada feito! Solução “pragmática funcional”: ir falar directamente com as senhoras da limpeza! Ou… solução à Igor: comprar a vassoura + pá+ sacos do lixo + um panito, e proceder às correspondentes limpezas, que demoram 4 minutos e 32 segundos!

Os mais burocráticos irão defender que as responsabilidades são deste e daquele, que não se deve assim nem assado… E, entretanto, o lixo acumula, as paredes estão sujas, as casas de banho estão partidas…etc.

A aplicação de uma atitude prática pode significar o sucesso de uma empresa, de uma associação e mesmo de uma família. Sou da opinião de que o exemplo deve vir sempre de nós, por isso não considero vergonha apanhar o lixo à beira da minha casa, de colocar novamente um cartaz que caiu no chão, de lavar a louça dos meus colegas e de responder às mensagens em tempo útil. Uma organização mínima, entre tantos outros exemplos.

Infelizmente, vejo-me a elogiar quem assim o pratica, e elogio pouco, e não porque não goste de elogiar. Desafio-vos da próxima vez em que determinada situação for aplicável este “funcionalismo prático” a assim o procederem e dêem o vosso testemunho nos comentários.

Todo este texto parece um pouco descabido, e descentrado das últimas intervenções neste espaço, mas fazendo um esforço abstracto imaginem como seria o mundo à nossa volta com a prática desta “filosofia”.

Igor Pereira

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Deterioração da Escola - Uma análise da atmosfera educativa actual

Aproveito este momento de reflexão para felicitar o impulsionador deste blogue, por mais uma vez demonstrar a sua incurável motivação para a mudança.

Relativamente a esta minha primeira intervenção, irei focar-me numa realidade com a qual tenho contactado directa e indirectamente nos últimos cinco anos. Refiro-me à Educação, mais especificamente ao seu estado actual.

O cenário do sistema educativo português é verdadeiramente dramático. Arrisco concluir que o funcionamento deficiente da Educação em Portugal é uma das principais causas estruturais do atraso do nosso país. A decadência que enforma o estado geral da nossa Educação está a transformar-se em irremediáveis consequências sociais. Perante este facto, parece-me impossível que este problema continue a ser levianamente menosprezado pelos organismos do poder português.

O que se tem feito realmente para colmatar as históricas lacunas consequentes das teorias pedagógicas facilitistas adoptadas pelo poder? Arrisco mais uma vez a concluir que nada se tem feito! Bem pelo contrário! A Escola pública portuguesa é actualmente um desenho claro de insucesso, irresponsabilidade, indisciplina e perversidade.

Mais ridículo é sabermos que os relatórios da OCDE nos colocam como recordistas em matéria de iliteracia, abandono e insucesso escolar, e sabermos ainda que o nosso problema está na qualidade do investimento que é feito na Educação em Portugal e não tanto na quantidade desse investimento. Na realidade, gastamos mais em Educação do que grande parte dos nossos parceiros europeus.

Então, não sendo por falta de investimento que nos confrontamos com os mais baixos níveis de desempenho nos rankings internacionais, quais são as verdadeiras razões para este mísero panorama?

É fácil concluir que se investimos mais em Educação do que as grandes potências económicas europeias, estamos evidentemente a investir mal. E porquê? Bem, a minha embrionária experiência tem-me mostrado que nos temos baseado num modelo de gestão escolar absolutamente leigo, desprovido de profissionalismo. A esta redundante falha acresce ainda a ineficiência clara dos poderes centrais e regionais da Educação, que subaproveitam os recursos humanos existentes e esbanjam os recursos financeiros.

É urgente uma total reforma educativa, que só é possível através de uma revisão curricular, uma reestruturação das teorias pedagógicas e uma definitiva profissionalização da gestão escolar. A partir daqui será possível aperfeiçoar o nível geral do sistema educativo português.

Finalizo com um apelo à discussão pública deste tema, que efectivamente tem várias vertentes. Neste caso, a questão que se coloca não será tanto “o que podemos fazer pelo nosso país”, pelo menos em termos práticos. É uma mudança estrutural que é indispensável. E esse é um problema técnico-político, que deveria ser devidamente considerado pelo poder central.

Saudações Académicas,


Soraia Almeida

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Deus, Pátria e FAMÍLIA

Nesta breve intervenção, não pretendo fazer nenhuma análise histórico-cultural de Portugal, nem basear-me em nenhum estudo sociológico avançado, nem sequer invocar passagens da Bíblia ou da nossa Constituição, que possam fundamentar os meus pensamentos. Apenas transmitirei uma pequena opinião acerca do presente.

Tendo eu nascido em 1984, os conceitos “Deus, Pátria e Família”, têm-me sido transmitidos por diversas gerações que viveram durante o Estado Novo, como indissociáveis e bastante presentes no quotidiano da sociedade da época.

Focando-me com maior pormenor na “Família”, considero que todos os estratos sociais e grupos ideológicos da época lhe davam uma importância primordial o que, nos dias que correm, infelizmente, tem perdido relevo.

No meu ponto de vista, para os crentes ou para os não crentes em Deus, para os leais ao antigo regime ou para os revolucionários e democratas, para os oprimidos e perseguidos ou para os detentores e controladores do poder, estiveram sempre presentes em primeiro lugar nos seus pensamentos e acções, importantes valores patrióticos e familiares. Da mesma forma que o comum cidadão português, com restrições anti-democráticas à liberdade de expressão e graves dificuldades financeiras, colocava a Família acima de tudo, também a elite fascista, independentemente da forma errada como actuava na sociedade, tinha como prioridade a Família. Nos dias que correm, a sociedade tem modificado as suas prioridades, com consequências evidentes a todos os níveis.

Mas como pode ser definida a “Família”? Considero que a “Família” pode compreender: amor e carinho, compreensão e paciência, honestidade, força e determinação para superar dificuldades, apoio incondicional, educação e formação pessoal/humana/social. São alguns exemplos de atitudes e sentimentos sempre subjectivos, intermináveis e extremamente difíceis de exprimir por palavras, por vezes esquecidos, mas que deveriam estar sempre presentes na nossa vida.

São estes princípios e valores, transmitidos de geração em geração que nos fazem adquirir uma determinada personalidade, crescer e amadurecer como seres humanos, que nos fazem ir em busca do conhecimento, ter ambição profissional, ser competentes e, ao mesmo tempo, voltar permanentemente ao início, à origem, à Família.

Será que a ausência/deturpação dos sentimentos humanos mais elementares e ao mesmo tempo vitais para a nossa formação estarão na origem dos problemas mais graves da nossa sociedade? Será que assuntos tão diversos e diferentes como a deterioração do comportamento dos jovens adolescentes, o aumento do número de divórcios, a gestão danosa das contas públicas, as enormes carências sociais ou o crescente índice de criminalidade, apesar de extremamente complexos, não terão uma origem tão essencial e tão comum?

sábado, 1 de janeiro de 2011

Academia e Sociedade

Numa análise simples da política nacional, é imperativo recuperarmos a ideia de que um regime democrático saudável existe se e só se a política não se transformar numa profissão e se for um serviço público, que exige “apenas” uma renovação constante.

Podemos já tirar uma conclusão: vivemos num país demasiado afastado do que seria um regime sinárquico, que permitisse a candidatura para cargos públicos apenas a quem já tivesse anos de trabalho profissional.

É igualmente indispensável, para organizarmos o nosso raciocínio, centrar-nos no Estado-providência ou, como actualmente é chamado, correctamente, o Estado Social.
O Estado Social é composto, maioritariamente, pelos Sectores públicos da Educação, da Saúde, da Justiça e da Segurança Social. São os 4 principais pilares de um Estado de direito, livre, democrático e solidário!

Envolvendo praticamente todos os Ministérios governamentais, muitas vezes por pura desorganização (e.g. a existência dos inúmeros Subsistemas de Saúde, como os das Forças Armadas, o da GNR, o da PSP e o da ADSE é uma franca falha organizativa e um mau exemplo sectárico do Estado, visto que o Serviço Nacional de Saúde é, ou deveria ser, verdadeiramente universal, como está previsto no artigo 64º da nossa Constituição), o Estado Social representa quase 50% do Orçamento de Estado. São cerca de 40 mil milhões de Euros de investimento por ano!

Percebendo esta dimensão, é incompreensível que não existam Entidades Reguladoras a actuar em todas as actividades económicas (principalmente nestas!). Mas elas existem! Só que não actuam. 
Só no sector público da Saúde, existe um investimento sem objectivo de cerca de 25%. São despesas não produtivas, responsáveis, em grande parte, pela insustentabilidade financeira do Serviço Nacional de Saúde. E, enquanto se fazem estas previsões, não há nenhum estudo que verifique a real dimensão do problema e perspective mudanças!

Pergunto-me se não seria indispensável garantir a imparcialidade destas Entidades Reguladoras, evitando a subversão pelo regime de nomeação governamental, que existe actualmente. Pessoalmente, acredito que faz todo o sentido.
Afinal de contas, o nosso governo é, na maioria dos casos, regulador, regulamentador e concorrente nas mais variadas actividades económicas, de estilo socio-liberal (retomo o exemplo da Saúde, com o sistema público - Serviço Nacional de Saúde -, existindo também o sistema privado e o sistema social [estes dois últimos sistemas já ocupam cerca de 30% do sector]).

Alguns defendem que a melhor hipótese seria transferir a responsabilidade dessas nomeações para a Assembleia da República. Mas isso seria apenas diminuir, e não acabar com o problema.
Penso que democratizar os sectores de fiscalização é fulcral para a credibilidade do nosso país, para quem nele quiser investir, quer sejam entidades nacionais ou entidades externas. Para desempenhar estas funções, devemos aproximar os centros do saber e do conhecimento.
Acredito que a melhor forma de o fazer é democraticamente, através da eleição de especialistas nas mais variadas áreas, vindos das Universidades públicas. E como? É essa mesma discussão que gostaria de ver aqui participada.

Aproveito ainda para saudar a importância de vermos, nestas discussões, pessoas provenientes de diferentes áreas do saber, pois só assim, aproveitando os conhecimentos individuais, conseguimos planificar alternativas concretas de futuro.
Quando, em Coimbra, muito se defende a remodelação do Estádio Universitário ou a revitalização da Baixinha, assistimos à inércia de não agrupar uma equipa de Estudantes de Arquitectura, de Engenharia Civil e de Engenharia do Ambiente para efectivar projectos de arquitectura, devidamente orçamentados e enquadrados paisagisticamente. Um exemplo vindo de Coimbra, da comunidade estudantil, mas que é, infelizmente, o mesmo problema do país: a incompetência política, a falta de discernimento em encontrar as nossas mais-valias, o descrédito do espírito altruísta e empreendedor e o desconhecimento do que é uma cidadania dinâmica.


Desejo a todos um belíssimo Ano 2011!



SAUDAÇÕES ACADÉMICAS


Hugo Ribeiro