Caros amigos,
Antes de mais, gostaria de partilhar convosco a encruzilhada em que sinto que me meti, logo que optei por escolher o “Futuro da Universidade de Coimbra” como tema desta minha primeira intervenção.
De facto, o tema é demasiado amplo para que consiga aqui abordar as inúmeras possibilidades que encerra. Apesar disso, e visto que “nos” encontramos perto de eleger aquele será o próximo Reitor da UC, é agenda do dia reflectir sobre quais deverão ser as principais orientações estratégicas da UC para os próximos quatro/cinco anos.
Estudo há cinco anos na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, que foi a minha primeira escolha no acesso ao Ensino Superior. Houve uma altura do meu percurso académico em que, garanto-vos, tinha pouquíssima estima pela Universidade (ou, sejamos justos, pela faculdade) e cheguei a jurar que nunca faria aqui mestrado. Inclusivamente, cheguei a recomendar a estudantes do ensino secundário que não escolhessem Coimbra. A minha frustração não se devia a más notas, devia-se apenas ao facto de sentir que havia à minha volta instituições do Ensino Superior mais valorizadas pelo mercado de trabalho e em que o ensino – pelo menos a acreditar nas palavras dos meus amigos que as frequentavam – era verdadeiramente mais atractivo. Em cinco anos, vi a Universidade de Coimbra ser ultrapassada em várias áreas pela Universidade Nova de Lisboa, pela Universidade de Aveiro, pela Universidade Católica, para citar apenas alguns exemplos. E, depois do Processo de Bolonha, assisti a uma fuga enorme de recém-licenciados que escolhem outras universidades – portuguesas ou europeias – para fazer mestrado. Este sentimento não passava disso mesmo: um sentimento. Mas quando sentimentos deste tipo são generalizados e se tornam conversa de café, é porque algo está mal.
Desabafo à parte, não poderia pensar hoje de forma mais diferente. Nos últimos três anos tive a oportunidade de trabalhar activamente numa organização -a AIESEC - que, através dos estudantes, professores e empresas com quem me permitiu contactar, me fez perceber que a Universidade de Coimbra tem, sim (!), a capacidade de formar estudantes únicos em todas as áreas. O estudante de Coimbra é um estudante resiliente, crítico e inovador que estuda num ambiente académica privilegiado e que tem que ser capitalizado.
Uma Universidade como a de Coimbra, não pode querer para si um futuro que não seja ser a referência nacional no Ensino Superior e uma referência no Ensino Superior Europeu. Para tal, numa análise simples, poderão contribuir dois factores críticos de sucesso: (1) Investigação e (2) Taxa de Colocação dos estudantes no mercado de trabalho da sua área.
Em relação ao factor Investigação, julgo que a sua essencialidade é óbvia. Primeiro, porque só boa investigação atrairá os melhores estudantes aos cursos pós-graduados da Universidade; segundo, porque uma investigação que gere receita é remédio (quase) santo neste contexto de cortes no Ensino Superior; e terceiro, porque a projecção mediática da boa investigação trará auto-estima aos alunos e docentes (veja-se, a este propósito, as boas práticas da FCTUC), bem como renome à Universidade.
Neste campo, e apesar da aposta dever continuar, parece-me que a Universidade está bem desperta. O problema é que insiste em continuar a dormir no que toca ao factor “taxa de colocação” visto que, salvaguardadas as excepções, poucos cursos se preocupam verdadeiramente com a colocação dos alunos que formam.
As estatísticas dizem que 99% dos estudantes são colocados na primeira fase em Coimbra. Mas dizem também que 1/3 desses alunos queria ter entrado noutra Universidade. Fica claro que a UC não é a primeira escolha entre os estudantes e, face a isto, cumpre tentar perceber o que é que motiva a generalidade dos estudante de hoje, a escolher uma Universidade.
O jovem de hoje em dia está interessado em escolher a Universidade que lhe ofereça melhores condições para combater o maior problema social dos dias de hoje: o desemprego. Quanto mais provas a Universidade der de que o seu ensino é reconhecido e acreditado pelo mercado de trabalho, mais hipóteses tem de atrair os melhores alunos.
Dar provas neste campo poderá significar inúmeras coisas. Implicará, por um lado, uma verdadeira estratégia de aproximação Universidade/Empresa (mais uma vez, atente-se às boas práticas da FCTUC) e, por outro lado, uma verdadeira preocupação e aconselhamento dos gabinetes de saídas profissionais. Poderá também implicar uma verdadeira estratégia de marketing na promoção dos cursos da UC e uma maior capitalização das redes de alumni que, em Portugal, ao contrário de países como os Estados Unidos, são tão mal trabalhadas.
Os mais cépticos e conservadores, dirão que isto é colocar a Universidade a fazer o papel do estudante. Pelo contrário, julgo que estes são passos que poderão levar a Universidade a criar uma cultura orientada ao sucesso que, sem descaracterizar o que é típico no estudante de Coimbra, irá formar trabalhadores mais dinâmicos, mais capazes, e colocar a Universidade de Coimbra onde merece: no topo.
Antes de terminar, gostaria apenas de deixar claro que alguns dos problemas identificados e soluções apontadas, não servem para todosos cursos. A UC tem óptimas práticas de sucesso nomeadamente em faculdades como a FPCEUC e a FCTUC, e o factor “taxa de colocação” não é determinante para que a UC seja a primeira escolha em determinados cursos.
Termino esta reflexão com a ideia com que comecei: toda esta abordagem poderá parecer redutora face à amplitude do tema, pelo que o debate, que é afinal o objectivo deste espaço, é muito bem-vindo.
Que Universidade de Coimbra imaginamos no futuro?
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