quinta-feira, 10 de março de 2011

Portugal: um país desfasado da (sua) realidade

O tema que hoje me proponho trazer à consideração dos "nossos" leitores é um tema que, embora aparentemente simples, se reveste de uma tremenda complexidade e que se relaciona com algo que, acredito, condiciona (e muito) a nossa sociedade e, mais concretamente, a (auto)designada "geração à rasca".



Como estudante que fui, acompanhei, pessoalmente e por intermédio de colegas e amigos, o proliferar de cursos neste pequenino país "à beira mar plantado".

Falo não só da criação de novos cursos (nem que de novo tenham só a sua designação), mas também do exponencial aumento da distribuição geográfica dos cursos já existentes.



Hoje em dia, sejamos sinceros, toda a gente tem (ou acha que tem) que ter um curso superior - mesmo que isso signifique, tão-só, a possibilidade de passar mais uns 4 ou 5 aninhos (3 ou 4 depois de Bolonha) debaixo da asa dos papás, sem ter que enfrentar o mundo e o mercado de trabalho. Sendo certo que, não poucas vezes, são os próprios pais que "empurram" os seus filhos para a frequência de um curso superior.



Naturalmente que sou daqueles que defende (com unhas e dentes, se for caso disso) o direito de todos e cada um ao ensino e ao incremento da sua formação.

Mas, infelizmente, aquilo que observei e observo é que, para grande parte dos estudantes, a escolha do caminho escolar a seguir prende-se menos com a prossecução de uma vocação ou de um objectivo de e para o futuro, mas com a (falsa) ideia de que (e adaptando uma célebre rábula dos Gato Fedorento) "quem tem um curso superior é fixe e quem não tem um curso superior não é fixe".



Isto leva a que tenhamos não só o tal excesso de cursos (de que já falei), mas também a que a formação oferecida e conseguida não convirja com as reais necessidades do país.



Recentemente, fui colocado perante a ideia (que, como se perceberá acolho) de que deveria ser feito um planeamento das necessidades do país e, em consonância, gerir-se o sistema educativo superior.

Ou seja, determinar quantos médicos, engenheiros, advogados, enfermeiros (etc...) é preciso formar para fazer face às exigências populacionais nos próximos anos.

E, com base neste estudo/cálculo, determinar o número de cursos e o número de vagas à disposição daqueles que, terminado o ensino secundário, queiram seguir o seu percurso escolar.



Se as coisas fossem feitas desta maneira (a meu ver bem mais racional e, por isso, mais justa) não teríamos milhares de futuros formados e recém-licenciados a calcorrear as ruas como forma de protesto pela falta de emprego.

Note-se que a solução que referi não é uma forma de se acabar com os preocupantes níveis de desemprego que assolam o país, é, antes, uma forma de, pelo menos, não criar falsas expectativas!



Além do mais, como também já disse, não creio que o ensino superior seja algo obrigatório para que se consiga um emprego (ou um trabalho)... Penso que deveria haver uma mais séria aposta na formação profissional e, até, incentivar-se e recompensar-se os jovens que optassem por, desde cedo, ingressar no mercado de trabalho.

Não nos esqueçamos que, no estado actual do nosso país, mais pessoas a trabalhar significa, por um lado, um desonerar dos cofres do Estado, e, por outro, uma possibilidade de aumento das colectas fiscais - visto que um maior número de pessoas estariam em posição de pagar impostos.



Sei que ao falar na questão dos impostos muitos me acusarão de ser fascista (sim, há pessoas que pensam deste modo)... Mas se queremos que o Estado tenha capacidade para cumprir os seus deveres "sociais", temos que garantir que o possa fazer - é que, como sempre me disse a minha avó: "o dinheiro não cresce nas árvores".



Voltando ao tema deste post (e pedindo desculpa por este "desvio"), acrescento que este modelo é já seguido nos países do Norte da Europa - aqueles que até para a nossa Ministra da Educação são, acima de qualquer outro, o exemplo a seguir.



Portugal é, nos dias que correm, um país de enganos e de falsas aparências... Ter um "dr." ou um "eng." como prefixo já não significa o prestígio de outrora...

Bem vistas as coisas, ter uma licenciatura já nem significa que se tenha ou se consiga um emprego (mesmo numa área diferente da da formação académica seguida)...



Não será muito melhor deixarmos de "atirar areia" para os olhos das pessoas e, com seriedade, estruturarmos o seu/nosso futuro?

Não será muito mais justo, mesmo que isso signifique o colapso das estatísticas (de que se alimenta o Governo), formar apenas os profissionais que precisamos, nas áreas que precisamos?

E, havendo essa justiça, não seremos todos muito mais felizes?



Além do mais, para beber uns canecos não é preciso andar na Universidade!!! ;)

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