terça-feira, 19 de abril de 2011

Sociedade anti-educação

Ultimamente fala-se muito de educação. No nosso país, onde a idade mínima de educação obrigatória têm sido cada vez mais alta, vemos a grande quantidade de jovens com ensino superior desempregados. Mas o que se passa afinal? Será o que o mercado ficou saturado de tantos alunos com elevadas qualificações? É provável, mas na minha opinião não é esse o problema. Acredito que o sistema de educação não está a servir o paradigma social actual.
Há quem diga que o ensino é cada vez menos rigoroso, que há demasiadas distracções, que os conteúdos não são os mais correctos, ou que não há respeito pelos professores. Eu posso concordar com este factores, principalmente com o último, mas o que mais me preocupa, é o real desaproveitamento das capacidades dos alunos. Se um aluno é excelente a matemática, e se sente motivado com a matemática, deve aprender mais matemática e ser bom nessa área. E depois de estar motivado nesta, vai querer aprender as outras coisas. O que o ensino actual faz é obrigar os alunos a saber uma série de conceitos, que muitas vezes não são aprendidos, mas decorados. Colocados numa memória temporária, para se poder passar naquele teste ou exame. E quando se aplica uma situação na vida real, ou quando surge uma situação diferente, eles não sabem como reagir porque não foram preparados para situações incomuns, não foram preparados para situações que necessitem de soluções criativas.

Nesta conferência que vão perceber melhor o que estou a dizer.
http://www.ted.com/talks/ken_robinson_says_schools_kill_creativity.html

Aqui surge o conceito da arte e criatividade que penso ser tão importante que o português ou a matemática. Hoje em dia temos um ensino muito semelhante, cujo objectivo é afunilar num conjunto de conhecimentos. Mas na nossa vida necessitamos de saber um grande e variado leque de conhecimentos, e mais importante que os saber, é onde os encontrar no momento em que se necessita deles.

O ensino de há 20 anos atrás reflecte-se hoje na sociedade. Estamos numa altura de crise e encontra-se muita gente desempregada. E quais são as soluções dos recém-graduados de hoje? Onde está a criatividade, a pro-actividade e atitude para lidar com a sociedade actual? Todos aprendemos a ser (e somos bons) treinadores de bancada, mas quando é necessário tomar iniciativas sociais, identificar problemas e criar as soluções, ou mesmo desenvolver projectos no seio da família ou da comunidade… Ficamos quietos, pois isso nunca aprendemos a fazer. Não aprendemos a criar, a correr riscos, apenas aprendemos que não podemos errar.
Num pequeno à parte, nos Estados Unidos, temos casos de pessoas que depois da falir 3 empresas, foram ao banco pedir dinheiro para uma nova empresa e esse financiamento foi mais fácil. Se isto parece um paradoxo, também me parece que depois de falir 3 empresas, deverá ter aprendido a não cometer os mesmos erros, e a probabilidade de vir a falir novamente será mais reduzida.

Concluindo em relação à nossa educação, gostava de referir o novo modelo de ensino democrático como o da escola da ponte. (Podem ver mais aqui http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Y9zHemGrquU e aqui). As crianças são curiosas por natureza e têm desejo de aprender, mas perdem todo o interesse, quando a sua curiosidade é sufocada pelos programas impostos pela burocracia governamental. A escola da ponte é diferente, abarca os 1º, 2 e 3º Ciclos do ensino básico, mas em tudo é especial: não têm turmas, não têm alunos separados por classes, os professores não dão aulas com giz e quadro, não têm campainha que separe o tempo, não têm teste nem notas. Esta escola permite um ensino personalizado, baseado em pilares de democracia e de cidadania. Aqui os Professores não têm um programa a seguir mas têm o papel de "seduzir" para as matérias que os alunos nunca experimentaram. Os alunos é que planeiam o seu estudo, debatem o que acham bem e mal. Têm direitos afixados nas paredes entre os quais transcrevo um: "Toda criança tem o direito de não ler o livro de que não gosta.". Inclusivamente nesta escola são eles que criam as suas próprias leis. Uma dessas leis é a seguinte: "Temos o direito de ouvir música enquanto trabalhamos, para pensar em silêncio.".

Espero que esteja aqui a solução para a nossa sociedade… Daqui a 20 anos.

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