terça-feira, 12 de abril de 2011

Uma aposta de futuro

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Temporariamente remetido à minha condição de emigrante, não posso deixar de me sentir (ainda mais) impotente face à difícil situação que enfrenta o nosso País. Não só me é particularmente difícil contribuir de forma mais indirecta (através de acções concretas, participando em discussões, usando eventuais economias em prol do bem público, participando em movimentos cívicos e/ou partidários, promovendo a Justiça no meu dia-a-dia, etc.), como, de forma muito mais “pragmática”, vejo muito complicada a minha participação no acto eleitoral do próximo dia 5 de Junho.


Dando como premissa que me é impossível deslocar a Portugal nesse dia, não quero porém deixar de exercer o meu direito e dever cívico. A alternativa mais viável parece passar, para já, pela inscrição no consulado mais próximo. Mas não só isso se constitui como um processo talvez demasiado burocrático (sobretudo se tivermos em conta que no período expectável da minha permanência no estrangeiro só deverá ocorrer um acto eleitoral), como se constitui numa desvalorização efectiva do meu voto.


Vejamos: nas últimas eleições legislativas, o meu círculo eleitoral elegeu deputados correspondentes a 4 forças partidárias. Em contraponto, em toda a história da III República, apenas na primeira eleição para a Assembleia da República foi eleito um candidato no estrangeiro que não concorresse pelas listas do PS ou PSD — quando António Simões Costa foi eleito pelo CDS no Círculo de Fora da Europa, em Abril de 1976! A acrescer a isto, há o facto de os candidatos serem residentes... fora do território nacional, como se espera. Pelo que a proximidade entre eleitor e eleito não passa de um mito; isto claro, para além de serem para mim ilustres desconhecidos, na maior parte dos casos.


Ora, isto reflecte uma preocupante limitação na qualidade da nossa democracia – tema que dá pano para mangas e ao qual hei-de voltar repetidas vezes, espero – mas reflecte mais ainda o modo como Portugal trata as suas comunidades de emigrantes e imigrantes.


Com efeito, esta minha experiência fora de portas tem-me mostrado diversos pontos: que o melhor meio de promover o País não é percorrendo o Médio Oriente com uma mala de títulos da dívida pública, mas através de uma aposta no valor das nossas comunidades na Diáspora; que estas comunidades são esteios incontornáveis na promoção da nossa cultura e da nossa Língua, muito mais do que qualquer Acordo Ortográfico amanhado “às três pancadas” e que não está ratificado por colossos da lusofonia como Angola e Moçambique; que os emigrantes portugueses no estrangeiro (em particular na Europa) são ou deveriam ser uma arma fundamental no combate às ideias feitas sobre a incomensurável preguiça e desonestidade do povo Português...


Assim, vivendo lado-a-lado com estrangeiros de múltiplas nacionalidades, não posso deixar de considerar que o potencial das comunidades portuguesas no estrangeiro está claramente sub-aproveitado. Não só no modo como o Estado (não) aposta nelas para obter benefícios para todos os seus cidadãos, como na maneira como se demite da sua responsabilidade na oferta de serviços públicos que assegurem uma efectiva adesão à cidadania.


Urge estabelecer uma rede consular com serviços online desburocratizados, fáceis, acessíveis e disponíveis à distância; aumentar os benefícios daqueles que enviam maiores remessas de dinheiro para a Pátria; apostar no reforço da imagem de Portugal no estrangeiro recorrendo ao que de melhor que temos para exibir e, em particular, as nossas comunidades dispersas pelo mundo.


E, claro, porque queremos que Portugal seja um exemplo; porque queremos que o nosso País seja coerente nas palavras e nas acções; porque não tiramos com a mão esquerda o que damos com a direita, há que fazer em casa, com os imigrantes, o que queremos que façam com os nossos, lá fora. A aposta numa cada vez mais justa e integradora politica de imigração tem de ser uma prioridade.

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